O que é uma análise? Um breve relato

Quem faz um tratamento psicanalítico está falando consigo mesmo por meio de alguém que lhe empresta seu ouvido, que lhe dedica tempo, que é o camaleão de suas relações passadas.

No início da carreira, Freud estava intrigado com coisas que fazemos aparentemente de maneira aleatória, mas que podem revelar uma intenção ou compreensão escondida fora da consciência. É o que chamamos de “ato falho”. Como quando você não quer voltar de viagem e percebe que esqueceu seu documento de identidade no quarto do hotel quando chega ao aeroporto.

Muito se diz por aí que o psicanalista é um terapeuta que sustenta longos silêncios, o que pode ser verdade, mas não é de fato uma regra. Na realidade, por se basear na linguagem e no tempo do inconsciente, é fundamental não influenciar naquilo que o inconsciente do paciente deseja falar, dando espaço para que seu protagonismo se instaure.

Uma análise desempenha o papel destruidor das falsas ilusões da vida, desde a nossa infância. As impressões de traição, desamparo, tudo o que faz a infelicidade de alguém, se ouve como outras pessoas deveriam ter escutado. Somos um camaleão de plantão. Estamos para que os outros falem aos próprios ouvidos por meio daquela pessoa presente para escutar. Como um espelho.

Gosto de pensar a análise como o céu - todos os dias sei que está ali, mas também sei que existe um ‘não saber ali’. Eu não sei o que precipita de lá senão o que meus olhos vêem e o que minha pele sente. E ainda assim, todos os dias me surpreendo.

Para a Psicanálise somos seres divididos: uma metade movida a Desejo (Inconsciente) e outra que administra as barreiras a esses impulsos primordiais (Consciência). Essa cisão é fundamental para a formação da subjetividade e da personalidade de cada um de nós. Essa divisão entre o que se quer e o que se pode querer acaba por instalar os problemas que levam o sujeito a procurar uma terapia que se volta à exploração do inconsciente para tentar destravar essa relação angustiante.

E você, em algum lugar aí dentro, onde se estranha?

Por Bartira Ramos

CRP 06/143526