“Nem subalternizada, nem guerreira natural: humana.”
Djamila Ribeiro (2018)
Pensemos na construção da subjetividade das mulheres negras, que além da questão de raça, têm suas vidas permeadas pela questão de gênero. No âmbito da saúde mental, as mulheres negras precisam ser ouvidas levando-se em conta não só as suas vivências particulares, mas seu lugar social, que possui particularidades devido à experiência histórica das mulheres negras no Brasil.
Vamos recorrer à memória da escravidão e das condições de vida da população negra no Brasil após longos anos desse processo. O que era destinado às mulheres negras? O trabalho, a violência contra seus corpos, a servidão. Não eram cuidadas, pelo contrário, só cuidavam dos outros. Não podiam falar sobre suas dores, não podiam viver seu prazer nem falar de seus desejos, tiveram seus corpos objetificados e suas ideias nem passaram perto de alguma validação.
Com muita luta ao longo dos anos, conquistamos mais possibilidades de vida, mas ainda hoje vemos e vivemos as consequências dessa história. Dentre elas, Djamila Ribeiro (2018) fala sobre a ideia desumana e historicamente construída da mulher negra como inerentemente forte, a imagem da mulher guerreira.
Essa ideia vem afastando as mulheres negras do cuidado com sua saúde mental e pode ser um obstáculo para conseguirem expor suas vulnerabilidades.Além disso, muitas vezes encontram na terapia um ambiente que não reconhece suas dores decorrentes do racismo e que as silenciam mais uma vez.
A psicanalista Neusa Santos Souza diz que “saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas perspectivas (...). Mas é também, e sobretudo, a experiência de comprometer-se a resgatar a sua história e recriar-se em suas potencialidades”. Com essa fala potente de Neusa, reafirmo a importância de que haja na psicoterapia uma escuta qualificada para mulheres negras, considerando as suas particularidades e suas demandas históricas.
Lais Rodrigues
CRP 06/145325
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