A aproximação do fim do ano pode nos convocar, de forma íntima e subjetiva, a nos aproximar de alguns fins em nós. Algum encerramento se coloca, há algo que se fecha, e com isso, algumas angústias se acentuam. Esse é um período marcado por lembranças, marcas daquilo que passou, que nos convida a reflexão. A chegada das datas comemorativas muitas vezes não é sinônimo de festa e nem corresponde apenas a recordações alegres e felizes. Pelo contrário, pode trazer um agravante ainda maior para quem já experencia uma condição de sofrimento psíquico importante, tornando esse momento ainda mais desafiador na sua travessia.
O final do ano, frequentemente, pode ser marcado por contrastes, com sentimentos e emoções ambíguas. Se por um lado, pode haver expectativas de momentos festivos, da possibilidade de uma pausa, um certo descanso, por outro, pode surgir o oposto, um cansaço profundo que parece se acumular com o passar dos meses. É como se sentíssemos um desgaste físico e emocional ao término de cada ciclo, muitas vezes ligado às cobranças e ao ritmo acelerado do tempo, que a vida contemporânea parece exigir cada vez mais. Algumas pesquisas até apontam que o nível de estresse aumenta no mês de dezembro. Há uma ansiedade de performar, de buscar fazer o que ainda não se fez. Soma-se a isso, a presença de sentimento de culpa, tristeza, ressentimentos e frustrações. Isto é, enquanto muita gente está em festa, outras podem se encontrar na solidão.
As angústias desse período são, com frequência, acompanhadas pela sensação de que o tempo voa, escapa, e de que ainda há muito a se fazer, alcançar, conquistar e por aí vai... Algumas questões podem se impor: fizemos tudo aquilo que planejamos? Fomos felizes? O que conquistamos? O que perdemos?
Longe de ser apenas um marco de fechamento do ano, esse período pode ser visto como um momento de pausa, de reflexão e de redimensionamento. É uma oportunidade para nos questionarmos sobre o que e como temos vivido até aqui, e qual o sentido temos atribuído ao que vivemos, que (novos) significados podemos dar à nossa trajetória. Em vez de nos afundarmos numa certa pressão das festividades ou no peso que algumas expectativas trazem (sejam elas sociais ou singulares, pessoal), podemos aproveitar esse momento para olharmos para nós e avaliarmos nossa caminhada. Parece propício para reavaliar anseios, repensar prioridades, revermos nossos limites e posições que mantemos no laço social, no trabalho, na família, nos vínculos afetivos.
São tempos de angústia ou de celebração? Talvez seja possível inserir um “e” entre essas duas palavras, pois ambas podem coexistir na aproximação do fim do ano. Esse período, tão marcado pela expectativa de alegria e confraternização, também carrega suas angústias – sejam elas pelas perdas acumuladas ao longo do ano, as expectativas não cumpridas ou o peso das convenções sociais. Contudo, essa mesma angústia pode abrir espaço para um processo de ressignificação. Ao dar um caminho de sentido ao desconforto, podemos atravessar essa experiência, transformando-a. Com sorte, essa trajetória talvez possa culminar em uma celebração, não da ausência de angústia, mas da capacidade de encará-la e integrá-la às vivências. Quando atravessamos a angústia, quando buscamos entender seu significado ou o que ela nos sinaliza, podemos talvez celebrar uma nova oportunidade que se inaugura.
Como é para você a aproximação do final do ano? Como você tem se sentido?
Por Vitor Ramos
CRP 06/149076
Pra mim, esse período, está mais para angústia. Bem que poderia pular esses dias e já cair no carnaval, rs.
Ótima reflexão!