Outubro é o mês da campanha de prevenção contra o Câncer de Mama, mais conhecida como “Outubro Rosa”, porém a temática é importante o ano todo! Tal campanha consiste em manter um acompanhamento médico ginecológico rotineiro, com realização de mamografia, ultrassom, dentre outros. Mulheres sempre é hora de se cuidar, fiquem atentas.
Mas afinal o que é o Câncer? Por que só a palavra já causa arrepio? O que o psicólogo tem a ver com isso?
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que tem em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acumulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. O diagnóstico tem, geralmente, um efeito devastador na vida da pessoa que o recebe, seja pelo temor às mutilações e desfigurações que os tratamentos podem provocar, seja pelo medo da morte ou pelas muitas perdas, nas esferas emocional, social e material, quando falamos do Câncer de Mama é ainda mais complexo.
No Brasil e no mundo a incidência do câncer de mama vem aumentando e aparecendo cada vez mais cedo na vida da mulher, ele representa uma das maiores causas de morte entre elas, mesmo considerado de bom prognóstico se tratado adequadamente. Isso acontece porque muitas vezes seu diagnóstico é tardio, por isso a importância da prevenção. O tratamento envolve mastectomia, quimioterapia e radioterapia, que, pelos seus efeitos físicos, podem comprometer em variados graus a auto-estima, a imagem corporal e a identidade feminina daquelas que recebem o diagnóstico da doença.
O impacto psicológico causado pelo câncer de mama traz uma significativa repercussão na vida da paciente. Primeiro porque confronta essa mulher com a questão do imponderável, da finitude e da morte, a doença traz perda do corpo saudável, traz sensação de vulnerabilidade e de perda de domínio sobre a própria vida, vive-se muitos lutos. Segundo porque está localizado em um órgão muito significativo para a mulher e para a nossa sociedade, é um dos aspectos que a caracteriza como mulher, está relacionado a maternidade, amamentação e prazer.
O curso da doença e seu tratamento, segundo estudos demonstram possibilidade de redução da qualidade de vida nos domínios profissional (faltas frequentes, indisposição, aparência, diminuição da mobilidade), sexual (menopausa precoce, diminuição da libido, alteração na produção de hormônios sexuais, o que torna o ato sexual doloroso, abalo da auto-estima por não se sentir desejável), familiar (fragilidade emocional, medo de partir, dependência) e financeira (apesar do tratamento ser oferecido pelo SUS de forma gratuita, se essa mulher for a principal mantenedora da casa, as possibilidades econômicas podem ficar afetadas), cada domínio pode ser afetado em maior ou menor grau dependendo da idade da paciente, porém sem dúvida pode trazer um sofrimento psicológico intenso que pode evoluir para um quadro patológico de depressão e ansiedade. Por isso podemos dizer que o câncer de mama é uma ameaça que pode abalar a identidade feminina, sentimento que fundamenta a existência da mulher.
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Assusta mesmo não é? Eu ouço a palavra câncer e penso em morte, isso causa medo. Eu escuto Câncer de Mama, eu penso em morte, em perder o seio que amamentou ou amamentaria meu filho, em perder o seio que me deixa bonita, completa e me dava prazer. Como vai ficar minha família? Meu parceiro? Meus filhos? E meu trabalho? Como eu vou ficar?
Mas vejam bem, eu disse que PODE e não que sempre será assim, ou que precisa ser dessa forma. Tudo vai depender da história de vida, da singularidade de cada mulher, da rede de apoio social que ela tem, dentre outros fatores, como por exemplo, o acompanhamento com um Psicólogo pode auxiliar esse processo. Nós como profissionais vamos ajudar a mulher a manter o seu bem-estar psicológico durante o tratamento. Vários estudos referentes ao câncer de mama comprovam que pacientes que participam de atendimento psicológico possuem um melhor ajustamento à doença, redução dos distúrbios emocionais (como ansiedade e depressão), melhor adesão ao tratamento e diminuição dos sintomas adversos associados ao câncer e aos tratamentos, podendo até obter um aumento no tempo de sobrevida.
Os objetivos do trabalho do psicólogo são: prevenir e reduzir os sintomas emocionais e físicos causados pelo câncer e seus tratamentos, levar a paciente a compreender o significado da experiência do adoecer, possibilitando assim re-significações desse processo. A prática é exercida em todas as etapas do tratamento, como dito anteriormente, habilitando a paciente a confrontar-se com o diagnóstico e com as dificuldades dos tratamentos decorrentes, ajudando-o a desenvolver estratégias adaptativas para enfrentar as situações estressantes. O acompanhamento psicológico durante o tratamento do câncer de mama obtém ganhos significativos, tais como: melhora do estado geral de saúde; melhora da qualidade de vida, melhor tolerância aos efeitos adversos da terapêutica oncológica e melhor comunicação entre paciente e família. Num espaço de acolhimento e escuta, maior será a sua capacidade de enfrentar o adoecer e vivenciar os outros aspectos da sua vida de forma plena e saudável.
Lembrando que a atuação do psicólogo não se restringe a paciente com Câncer de mama, os familiares da paciente também podem apresentar sofrimento intenso, dificuldades de lidar com a situação e podem se beneficiar com a psicoterapia. Na medida em que tenha suporte, a família pode se tornar aliada permanente dessa mulher.
Por Ana Carolina Alves Silva
CRP 06/138138
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